sexta-feira, 5 de junho de 2009
Reflexões de um instante
Um desenho em preto e branco sem movimento ou respiração, acaba chamando a atenção de um olho desatento e cansado, que a muito não para e observa uma chegada ou uma partida, apenas nota que as pessoas, coisas e não-coisas desaparecem ou aparecem como em um sonho, ai entra o dúvida, um esforço angustiado de lembrar algo que já foi, ou ainda nunca conhecido nem contemplado, como se este singelo gesto cotidiano toma-se conta do único instante de pausa e admiração, mesmo o desenho vazio e instigante ou até a dilaceração de alguém ou não-alguém no asfalto empoeirado. Assim, poderia esse tal gesto, embalado por este tal desenho, inspirar a criação ritmada pela música da dilaceração asfaltica?
Nada irá superar o primeiro instante de admiração e nada pode ser mais verdadeiro que um momento repleto de instantes de contemplação ou não-contemplação.
Jamais serei,um mestre como Jean-yves Thibaudet e não terei uma coleção de instantes gloriosos de gestos cotidianos, pois um pianista começa sua música antes dos dedos tocarem as teclas, antes da última respiração de satisfação, começa quando o artista contempla seu destino e o destino da platéia que o assiste, pelo menos enquanto durar o timbre de sua última nota digerida pelo último espectador a sair da apresentação.
Tal qual o pianista, o ator busca instantes como estes, mas não busca a degustação deste fragmento de momento, busca sim uma sufocação de intenções e um embebedamento de conceitos e não-conceitos, aonde está a suavidade de um pianista que contempla antes de qualquer coisa seu próprio destino?
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