quinta-feira, 8 de setembro de 2011


Sem

Top of Form

saber quando e porquê, alguns instantes dilatam-se tanto que engolem as horas estampam-se na memória com a marca de uma lembrança , esses instantes que conseguem o silencio possível mesmo em meio ao farfalhar de palavras e ao tumultuar de pernas passantes, essa poesia do toque, da coragem, do receio, da ousadia, da tensão, do gosto de morangos, da contravenção cordial, misturado e embalado ao som de um acordeon imaginário, cercado de desejos e salpicado de poeira de solo sonhado.
Não é o caso de falar dos braços, deixemos eles de lado, nem o caso de dizer algo sobre olhos e olhares, nem lábios e beijos, nem dorso e abraços, nem pernas e temperaturas, nem de quase nada do vasta lista poética-anatómica do corpo, o que me inebria e instiga a organizar pensamentos em forma de palavras nesse momento é a mão, alguns podem dizer `` porque não o par delas ?``, ou, `` porque não o corpo todo``, para esses repito o que me instiga é uma mão, não é um simples mão perdida no vazio e sim a mão que sentenciou a direcção de meus pensamentos e desejos, mão que a simples ideia de toca-lá já me transporta para os incubus das sensações. Haveria meio de ir adiante?. Os dizeres saiam por todos os lados, percurso parecia definido .
Algum tempo depois quando todas as palavras já se faziam desnecessárias , quando todo espaço vazio até a mão já não existia mais, acontece o toque, suave, minúsculo e gigante ao mesmo tempo, alterando movimentos orgânicos desreferencializado de qualquer toque anterior, único, levemente tremulo, esse toque que reverberou pelo resto do corpo, que nesse momento o resto era um simples resto, um amontoado de carne, ossos e excrementos que a única razão de existir era empunhar a mão que tocava. A grandiosidade de um momento que parece tão singelo engoli qualquer intenção do verbo, que o toque essa linguagem universal decupa pensamentos e viceraliza desejos.
Meus pensamentos foram tomados estranhamente por um breve desejo de se sentar, como se estivesse na beira de um precipício, não adiantava nenhum subterfúgio, aquele toque tomou meus pensamentos, antidogmatismo, anticomunista, anti-fascista, anti-semita, anticotidiano, antiestupidez,antipragmatista, antihelenista, anti-intrigas intelectuais, antisamba se for o caso, antiqualquer coisa que pendesse a favor, perdido, estrangeiro em meu próprio corpo, tomado pelo toque, pela verdade corporal, mas mais aconchegado do que nunca, aquela sensação de um ponto que fica marcado, um ponto de mudança, cada vez mais humano e menos metálico, um desejo que todos os eletrons se lançassem em direção ao ponto de contado, como marinheiros a deriva embalados por uma miragem, ou, por um canto de seria, nesse caso desafinado e empolgante.
Ela estava lá, autêntica, armada com filosofias de primeira mão, com um inquietação artística, com uma força e com uma habilidade sorrir e fazer sorrir única!!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Uma coisa sem razão, algumas lanternas e continuam as palmas!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Fantasma ideal

Vista de uma rua principal de Cracóvia, após liquidação do gueto (março 1943) "será que alguém viu tudo da vidraça"

Como são estranhos os olhares das pessoas que aguardam o começo de um espetáculo, com olhos de pedra e com a cabeça direcionada para entrada do palco, elas permanecem entre a euforia e a agonia da espera; enquanto do outro lado os instantes dilatados são feitos de frações não vividas , tomados por de certo silêncio ruidoso, uma espera levemente angustiante e suavemente tempestuosa.

Na última apresentação de Krakow´ havia uma pequena vidraça, onde dividia o campo de visão com uma dupla de malabaristas, observamos durante algum tempo, não sei bem o que eles olhavam, mas dedicava minha atenção a busca de cada detalhe, de cada rosto, que de praxe estão sorridentes e vazios. Sempre existe certo resquício de violência reprimida que acentua o aspecto fantasmagórico das platéias, enquanto observava daquela vidraça me senti um rato pequeno e curioso, logo atrás havia aqueles objetos sem significados, empoeirados e que se encontram em fundos de teatro e galpões de ensaio, de uma forma fascinante acrescentam um pouco de poesia a essa atmosfera agastada; em dado momento os malabaristas saíram para executar seu numero, então só restaram os objetos empoeirados, a platéia de fantasmas e o rato da vidraça; o tempo se dilatou ainda mais

Quantos segundos faltavam para minha entrada?

Quantos fantasmas iam me emprestar suas faces?

Em alguns momentos tinha a leve impressão de que todos da platéia sabiam que estava sorrateiramente roubando-lhes as feições, procurava, apesar de toda brutalidade dos dias, um fantasma ideal que acreditei insanamente que estaria lá apenas olhando, absorvendo qualquer sentido que pudesse adquirir meus pensamentos, colocar um pouco de leveza a essas contradições que degradam o homem e maculam seu futuro. Esse semidevaneio tomou conta de mim logo que entrei nessa cidade, pois durante algum tempo acreditei não mais passar por aquelas ruas, ver aquelas casas, observar o local onde um carro perseguido despencou, dentre outras pequenas histórias urbanas e lá estava, naquela cidade, na vidraça e esperando; buscando um detalhe infinitamente insignificante que coagulasse minhas inquietações, pois, as coisas parecem reais apenas antes de começar e depois que terminam.

Pronto, estava feito, havia sido anunciado, o espetáculo começa, lapso, lapso, palavras perdidas, objetos que ganham vida, pequenas situações, lapso, lapso, escuro e aplausos, enfim, havia terminado, todos gostaram. Observei todos os fantasmas, o ideal não estava lá e nunca estaria; alguma coisa quebrou dentro de mim no retorno ao fundo para objetos empoeirados, quando olhei o espelho lá estava ele sorrindo para mim de maquiagem borrada e cabelos destrambelhados, nenhuma reverência ou muito menos saudade e ironicamente era como se ele falasse:

-- “eu sempre estive aqui atrás de seus olhos... quem é mais real?... devemos acreditar nas suas, ou nas minhas lembranças?”


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Vigília



Armei-me contra a ilusão da injustiça dos dias, toda praga é necessária e toda desgraça deve se fazer vista, ninguém é uma vitima constante de tudo e toda indizivelmente pequena partícula de desalento se faz real e é justa. O primeiro passo é apagar qualquer resquício de esperança humana, sóbrio, sempre sóbrio, ter as tubulações preparadas para uma súbita variação do gosto das frases artificialmente elaboradas, as quais podem aniquilar a incessante busca da totalidade humana, elas devaneiam nossos pensamentos e destroem nossas papilas. O pior crime e se acostumar com a terapia de alucinações que são aplicadas em pequenas doses, alterando o código genético e corroendo nossa carne, tornando o homem uma maquina libidinosa de luxuria e redenção. Ser impelido para essa degradação da constante busca do reconhecimento nos coloca ao patamar dos mais sujos cães de uma matilha urbana, se alimentando de restos e se entorpecendo em sua insana corrida reprodutiva; o mesmo sorriso que te acompanha de manhã rege seus pesadelos mais vazios durante a noite, não é preciso ter medo, nenhum momento é especial e os perigos são tantos que quando fecho os olhos sou medicado com a imagem desses cães bem vestidos duelando por sacos de lixo e por restos de caixas de fast-food. Não busque refúgios disponíveis, não há como fugir desses cães enfurecidos, que espumam de raiva e uivam de excitação; ou é dilacerado pelas mandíbulas, ou coloca uma bela roupa e consiga seu próprio saco restos alimentícios, algumas caixas te esperam e guardam o mais nobre naco de gorduras modificadas, todos estão cansados, mas a disputa por restos nunca termina e os profundos pensamentos se alimentam bem de tudo que conseguem para serem abatidos em uma ocasião especial e servidos em uma grande e escura bandeja acompanhado de amoras e amêndoas. Os homens podem se tornar mais inteligentes, mas nunca melhores, suas risadas despedaçam seus irmãos e seus sonhos incestuosos são mais ásperos que um parto seco, não há nada importante para hoje, pode encontrar um antigo amigo, lembrar das musicas cantadas desafinadamente, saber que em dias frios é proibido se mover demais na hora de dormir e que a água no rosto pode causar coceira no nariz. De dentro de um bunker é possível apenas vigiar a porção de sacos repletos de restos, esse é seu, todas as recordações são suas, a escolha é sua de quando devorá-las.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

DEUS EX MACHINA


“Por uma fração de segundo experimentei talvez aquela completa clareza que, segundo afirmam, é dada ao epilético conhecer”
HENRY MILLER


Se toda essa capa de matéria plástica que me revesti não fosse de algo tão frio talvez eu suportasse mais algumas horas. Esse cotidiano metálico nos mata com promessas de dias melhores, sem nenhuma trincheira, sem nenhum desastre natural, sem homens que explodem em uma carnificina santa; guardamos tudo nessa grande fotografia retalhada, brilhante e de apenas duas cores, mesmo que espere alguns dias bons não se esqueça que sempre vai existir ao fundo esse painel fotográfico embebedado de toda impiedade e desumanidade possível que nos leva aos íncubos da vida onde rasgar, trucidar a carne era um triunfo, antes de sair não se esqueça de trancar a porta e cortar todas as conexões indesejadas, verifique se não esta em anexo nenhum dispositivo de explosão temporizado, ensope todo o seu corpo com liquido anti-séptico para não ser contaminado por nenhuma bactéria devoradora de carne humana que pode acabar com você em poucas horas, não fale ao telefone você corri o risco de ficar feliz por alguns minutos e se torturar por várias horas, todas as pessoas que conhece acabam fazendo parte da criatura que você é ,não se esqueça de amputar as partes necrosadas, elas cheiram mal e podem te matar. Fique calma todos ainda dormem e todos os sorrisos que encontrar serão de adesivos baratos que não descolam com a saliva e não amarelam com o tempo. Sempre traço a rota mais curta até a minha casa para evitar novas fotografias, precisamos de tudo isso, de adesivos para sobrepor todas as fotos indesejadas, com imagens de pequenos animais peludos e desastrados, colinas com cabanas floridas, nuvens, dentre outros mimos estéticos de nossos dias, ninguém coloca como plano de fundo crianças soterradas, ferros retorcidos, teste de air-bag, cirurgias mutiladoras, produção de longos parafusos usados em linha férrea, ninguém comemora a primeira defecada do filho, comemoram as primeiras palavras, guardam o primeiro sapato, mas não a primeira fralda plástica, registram aniversários, nascimentos, formaturas, mas nunca uma surra, uma sentença médica, a extração do primeiro siso, a violação por uma circuncisão, a primeira urina por pesadelos. No final do dia não vai conseguir mais olhar para mim, vai achar graça quando atirar em alguma coisa e vamos acabar em grandes fotografias imóveis, frias e sintéticas sem gosto nem cheiro. A única coisa que pode fazer é ficar cara a cara com isso e escolher o melhor lugar para pendurá-las, organizando de uma forma suave e ímpia e garantindo que não fiquem cobertas durante a noite.

sábado, 28 de agosto de 2010

Essa tal gravidade absoluta (Vomitus cruentus)


Hoje ele acordou mais pesado do que qualquer objeto dentro de seu quarto, nada se move, essa gravidade derrete sua pele deixando sua ossada seminua, um grumo louco toma conta de seus pensamentos que estão ancorados por essa força prestamista, logo hoje que parecia tão bem disposto de súbito essa força puxou sua cabeça para baixo, comprimiu suas articulações de tal maneira que seus movimentos são como antigas portas de ferro, a cada hora que passa essa calma desesperada torna-se uma incapacidade que se alimenta dessa gravidade absoluta, em meio a essa força retornam pensamentos que pareciam estar decompostos e dos quais só restavam cinzas impiedosas. Nesse quarto humilde a gravidade molesta a carne e estreita o esqueleto, acaba com qualquer instante de esquecimento, com qualquer sonho trágico de criança, mantém todos os artigos de farmácia distantes e aqui vai permanecer. Quem diria? Logo ele que nunca teve medo de altura agora se assusta com medo da força que lhe mantém deitado e tem medo que seja tarde para acabar com toda náusea da vida cotidiana, com todo mistério de sonhos confusos e tarde para entender a rotação lenta da terra. Todas inaudíveis palavras já foram ditas, sabe que não será lembrado e que não haverá nenhum verso, nenhum caminho curto entre dois pontos, ou até mesmo uma pequena prece em uma noite de domingo; se essa gravidade absoluta lhe roubou as palavras tornando sua mente cruel e simples lhe resta apenas esconder todos os destroços e continuar como uma pequena massa comprimida em um buraco negro. E a todos que se preocupam com minhas palavras; tranqüilos....sempre falando baixo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Colapso


Esperamos um amigo, uma conexão melhor, novas notícias, não ficar doente, andar por uma casa grande, uma noite parada, uma vida complexa, uma rotina detalhada, um grito na cara, observar um desastre, não ter uma diminuição repentina das funções vitais, que as pontes cumpram seus deveres sem falhas nas estruturas, que microondas não explodam em pedaços radioativos, nunca se esquecer de trancar as portas, de telefonar se necessário, manter uma boa distância de confusões, escolher caminhos mais iluminados, caminhar por lugares conhecidos, nunca abrir a porta para estranhos, olhar para os dois lados antes de cruzar a rua, perder algumas chances, aproveitar outras, afastar-se de qualquer hipótese de dilaceração, terapias eficazes, forcas que suportem o peso, gasolina aprovada, pequenas fantasias depravadas, roupas anti-corrosivas, gelo pronto em cinco minutos, nunca esvaziar nossa mente, sentir pena, raiva , ódio, vontade, beber pouco, cavar uma boa trincheira, participar pelo menos de um picnic, definir uma noite como especial mesmo que ela não tenha acontecido, definhar no final, um pouco de dignidade, cabeleireiros mudos, unhas que cresçam regularmente, não participar de uma exumação, proteger crianças, perdoar velhos, santificar mortos, manter contas em dia, cuspir apenas quando estiver sozinho, nunca assoprar castelos de cartas, nunca ficar sozinho mais de doze horas seguidas, seguir, nunca ser seguido, evitar medicamentos vencidos, não tocar em corrimãos, ser recompensados, usar cola atóxica, não ser mutilado por facínoras, nem decapitado por mendigos infectados, contar o tempo meticulosamente, não ficar cego, não ficar longe de espelhos, evitar mostrar erupções cutâneas, tomar chá, verde, preto, amarelo, vermelho e transparente, cuidar da memória, evitar a loucura, a insanidade mental das crianças, beber água filtrada, colidir com poucos deformados, arrasados, dormir cedo, evitar pensamentos noturnos, criar expectativas, enterrar expectativas, criar monstros, aprisionar fetos em recipientes desinfetados, esquecer de toda placenta viscosa que um dia nos envolveu, usar palavras amáveis, não colocar a mão em arames enferrujados, inventar uma cor para cada som da palavra falada, cérebro intacto, memória sana, inventar lapsos, rir de medo do caos, pisotear vísceras, ser os trombones de uma batalha estética, construir conceitos, emparedá-los também,criar línguas, executar movimentos leves e acordar no mais completo vazio de um colapso mental..............zratre camini, zivrer grabam, strone , pitrufi, ignot, prambuli, braka ztruca nida vertraz, cprona, zurutra ravraka jraletruvianda nipriki e reralazam jruvijrujricabrana zastrez.