segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Fantasma ideal

Vista de uma rua principal de Cracóvia, após liquidação do gueto (março 1943) "será que alguém viu tudo da vidraça"

Como são estranhos os olhares das pessoas que aguardam o começo de um espetáculo, com olhos de pedra e com a cabeça direcionada para entrada do palco, elas permanecem entre a euforia e a agonia da espera; enquanto do outro lado os instantes dilatados são feitos de frações não vividas , tomados por de certo silêncio ruidoso, uma espera levemente angustiante e suavemente tempestuosa.

Na última apresentação de Krakow´ havia uma pequena vidraça, onde dividia o campo de visão com uma dupla de malabaristas, observamos durante algum tempo, não sei bem o que eles olhavam, mas dedicava minha atenção a busca de cada detalhe, de cada rosto, que de praxe estão sorridentes e vazios. Sempre existe certo resquício de violência reprimida que acentua o aspecto fantasmagórico das platéias, enquanto observava daquela vidraça me senti um rato pequeno e curioso, logo atrás havia aqueles objetos sem significados, empoeirados e que se encontram em fundos de teatro e galpões de ensaio, de uma forma fascinante acrescentam um pouco de poesia a essa atmosfera agastada; em dado momento os malabaristas saíram para executar seu numero, então só restaram os objetos empoeirados, a platéia de fantasmas e o rato da vidraça; o tempo se dilatou ainda mais

Quantos segundos faltavam para minha entrada?

Quantos fantasmas iam me emprestar suas faces?

Em alguns momentos tinha a leve impressão de que todos da platéia sabiam que estava sorrateiramente roubando-lhes as feições, procurava, apesar de toda brutalidade dos dias, um fantasma ideal que acreditei insanamente que estaria lá apenas olhando, absorvendo qualquer sentido que pudesse adquirir meus pensamentos, colocar um pouco de leveza a essas contradições que degradam o homem e maculam seu futuro. Esse semidevaneio tomou conta de mim logo que entrei nessa cidade, pois durante algum tempo acreditei não mais passar por aquelas ruas, ver aquelas casas, observar o local onde um carro perseguido despencou, dentre outras pequenas histórias urbanas e lá estava, naquela cidade, na vidraça e esperando; buscando um detalhe infinitamente insignificante que coagulasse minhas inquietações, pois, as coisas parecem reais apenas antes de começar e depois que terminam.

Pronto, estava feito, havia sido anunciado, o espetáculo começa, lapso, lapso, palavras perdidas, objetos que ganham vida, pequenas situações, lapso, lapso, escuro e aplausos, enfim, havia terminado, todos gostaram. Observei todos os fantasmas, o ideal não estava lá e nunca estaria; alguma coisa quebrou dentro de mim no retorno ao fundo para objetos empoeirados, quando olhei o espelho lá estava ele sorrindo para mim de maquiagem borrada e cabelos destrambelhados, nenhuma reverência ou muito menos saudade e ironicamente era como se ele falasse:

-- “eu sempre estive aqui atrás de seus olhos... quem é mais real?... devemos acreditar nas suas, ou nas minhas lembranças?”


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Vigília



Armei-me contra a ilusão da injustiça dos dias, toda praga é necessária e toda desgraça deve se fazer vista, ninguém é uma vitima constante de tudo e toda indizivelmente pequena partícula de desalento se faz real e é justa. O primeiro passo é apagar qualquer resquício de esperança humana, sóbrio, sempre sóbrio, ter as tubulações preparadas para uma súbita variação do gosto das frases artificialmente elaboradas, as quais podem aniquilar a incessante busca da totalidade humana, elas devaneiam nossos pensamentos e destroem nossas papilas. O pior crime e se acostumar com a terapia de alucinações que são aplicadas em pequenas doses, alterando o código genético e corroendo nossa carne, tornando o homem uma maquina libidinosa de luxuria e redenção. Ser impelido para essa degradação da constante busca do reconhecimento nos coloca ao patamar dos mais sujos cães de uma matilha urbana, se alimentando de restos e se entorpecendo em sua insana corrida reprodutiva; o mesmo sorriso que te acompanha de manhã rege seus pesadelos mais vazios durante a noite, não é preciso ter medo, nenhum momento é especial e os perigos são tantos que quando fecho os olhos sou medicado com a imagem desses cães bem vestidos duelando por sacos de lixo e por restos de caixas de fast-food. Não busque refúgios disponíveis, não há como fugir desses cães enfurecidos, que espumam de raiva e uivam de excitação; ou é dilacerado pelas mandíbulas, ou coloca uma bela roupa e consiga seu próprio saco restos alimentícios, algumas caixas te esperam e guardam o mais nobre naco de gorduras modificadas, todos estão cansados, mas a disputa por restos nunca termina e os profundos pensamentos se alimentam bem de tudo que conseguem para serem abatidos em uma ocasião especial e servidos em uma grande e escura bandeja acompanhado de amoras e amêndoas. Os homens podem se tornar mais inteligentes, mas nunca melhores, suas risadas despedaçam seus irmãos e seus sonhos incestuosos são mais ásperos que um parto seco, não há nada importante para hoje, pode encontrar um antigo amigo, lembrar das musicas cantadas desafinadamente, saber que em dias frios é proibido se mover demais na hora de dormir e que a água no rosto pode causar coceira no nariz. De dentro de um bunker é possível apenas vigiar a porção de sacos repletos de restos, esse é seu, todas as recordações são suas, a escolha é sua de quando devorá-las.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

DEUS EX MACHINA


“Por uma fração de segundo experimentei talvez aquela completa clareza que, segundo afirmam, é dada ao epilético conhecer”
HENRY MILLER


Se toda essa capa de matéria plástica que me revesti não fosse de algo tão frio talvez eu suportasse mais algumas horas. Esse cotidiano metálico nos mata com promessas de dias melhores, sem nenhuma trincheira, sem nenhum desastre natural, sem homens que explodem em uma carnificina santa; guardamos tudo nessa grande fotografia retalhada, brilhante e de apenas duas cores, mesmo que espere alguns dias bons não se esqueça que sempre vai existir ao fundo esse painel fotográfico embebedado de toda impiedade e desumanidade possível que nos leva aos íncubos da vida onde rasgar, trucidar a carne era um triunfo, antes de sair não se esqueça de trancar a porta e cortar todas as conexões indesejadas, verifique se não esta em anexo nenhum dispositivo de explosão temporizado, ensope todo o seu corpo com liquido anti-séptico para não ser contaminado por nenhuma bactéria devoradora de carne humana que pode acabar com você em poucas horas, não fale ao telefone você corri o risco de ficar feliz por alguns minutos e se torturar por várias horas, todas as pessoas que conhece acabam fazendo parte da criatura que você é ,não se esqueça de amputar as partes necrosadas, elas cheiram mal e podem te matar. Fique calma todos ainda dormem e todos os sorrisos que encontrar serão de adesivos baratos que não descolam com a saliva e não amarelam com o tempo. Sempre traço a rota mais curta até a minha casa para evitar novas fotografias, precisamos de tudo isso, de adesivos para sobrepor todas as fotos indesejadas, com imagens de pequenos animais peludos e desastrados, colinas com cabanas floridas, nuvens, dentre outros mimos estéticos de nossos dias, ninguém coloca como plano de fundo crianças soterradas, ferros retorcidos, teste de air-bag, cirurgias mutiladoras, produção de longos parafusos usados em linha férrea, ninguém comemora a primeira defecada do filho, comemoram as primeiras palavras, guardam o primeiro sapato, mas não a primeira fralda plástica, registram aniversários, nascimentos, formaturas, mas nunca uma surra, uma sentença médica, a extração do primeiro siso, a violação por uma circuncisão, a primeira urina por pesadelos. No final do dia não vai conseguir mais olhar para mim, vai achar graça quando atirar em alguma coisa e vamos acabar em grandes fotografias imóveis, frias e sintéticas sem gosto nem cheiro. A única coisa que pode fazer é ficar cara a cara com isso e escolher o melhor lugar para pendurá-las, organizando de uma forma suave e ímpia e garantindo que não fiquem cobertas durante a noite.

sábado, 28 de agosto de 2010

Essa tal gravidade absoluta (Vomitus cruentus)


Hoje ele acordou mais pesado do que qualquer objeto dentro de seu quarto, nada se move, essa gravidade derrete sua pele deixando sua ossada seminua, um grumo louco toma conta de seus pensamentos que estão ancorados por essa força prestamista, logo hoje que parecia tão bem disposto de súbito essa força puxou sua cabeça para baixo, comprimiu suas articulações de tal maneira que seus movimentos são como antigas portas de ferro, a cada hora que passa essa calma desesperada torna-se uma incapacidade que se alimenta dessa gravidade absoluta, em meio a essa força retornam pensamentos que pareciam estar decompostos e dos quais só restavam cinzas impiedosas. Nesse quarto humilde a gravidade molesta a carne e estreita o esqueleto, acaba com qualquer instante de esquecimento, com qualquer sonho trágico de criança, mantém todos os artigos de farmácia distantes e aqui vai permanecer. Quem diria? Logo ele que nunca teve medo de altura agora se assusta com medo da força que lhe mantém deitado e tem medo que seja tarde para acabar com toda náusea da vida cotidiana, com todo mistério de sonhos confusos e tarde para entender a rotação lenta da terra. Todas inaudíveis palavras já foram ditas, sabe que não será lembrado e que não haverá nenhum verso, nenhum caminho curto entre dois pontos, ou até mesmo uma pequena prece em uma noite de domingo; se essa gravidade absoluta lhe roubou as palavras tornando sua mente cruel e simples lhe resta apenas esconder todos os destroços e continuar como uma pequena massa comprimida em um buraco negro. E a todos que se preocupam com minhas palavras; tranqüilos....sempre falando baixo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Colapso


Esperamos um amigo, uma conexão melhor, novas notícias, não ficar doente, andar por uma casa grande, uma noite parada, uma vida complexa, uma rotina detalhada, um grito na cara, observar um desastre, não ter uma diminuição repentina das funções vitais, que as pontes cumpram seus deveres sem falhas nas estruturas, que microondas não explodam em pedaços radioativos, nunca se esquecer de trancar as portas, de telefonar se necessário, manter uma boa distância de confusões, escolher caminhos mais iluminados, caminhar por lugares conhecidos, nunca abrir a porta para estranhos, olhar para os dois lados antes de cruzar a rua, perder algumas chances, aproveitar outras, afastar-se de qualquer hipótese de dilaceração, terapias eficazes, forcas que suportem o peso, gasolina aprovada, pequenas fantasias depravadas, roupas anti-corrosivas, gelo pronto em cinco minutos, nunca esvaziar nossa mente, sentir pena, raiva , ódio, vontade, beber pouco, cavar uma boa trincheira, participar pelo menos de um picnic, definir uma noite como especial mesmo que ela não tenha acontecido, definhar no final, um pouco de dignidade, cabeleireiros mudos, unhas que cresçam regularmente, não participar de uma exumação, proteger crianças, perdoar velhos, santificar mortos, manter contas em dia, cuspir apenas quando estiver sozinho, nunca assoprar castelos de cartas, nunca ficar sozinho mais de doze horas seguidas, seguir, nunca ser seguido, evitar medicamentos vencidos, não tocar em corrimãos, ser recompensados, usar cola atóxica, não ser mutilado por facínoras, nem decapitado por mendigos infectados, contar o tempo meticulosamente, não ficar cego, não ficar longe de espelhos, evitar mostrar erupções cutâneas, tomar chá, verde, preto, amarelo, vermelho e transparente, cuidar da memória, evitar a loucura, a insanidade mental das crianças, beber água filtrada, colidir com poucos deformados, arrasados, dormir cedo, evitar pensamentos noturnos, criar expectativas, enterrar expectativas, criar monstros, aprisionar fetos em recipientes desinfetados, esquecer de toda placenta viscosa que um dia nos envolveu, usar palavras amáveis, não colocar a mão em arames enferrujados, inventar uma cor para cada som da palavra falada, cérebro intacto, memória sana, inventar lapsos, rir de medo do caos, pisotear vísceras, ser os trombones de uma batalha estética, construir conceitos, emparedá-los também,criar línguas, executar movimentos leves e acordar no mais completo vazio de um colapso mental..............zratre camini, zivrer grabam, strone , pitrufi, ignot, prambuli, braka ztruca nida vertraz, cprona, zurutra ravraka jraletruvianda nipriki e reralazam jruvijrujricabrana zastrez.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Made in Krakówz


Piotr Ivanovich vive perambulando por todos os botequins, tabernas, cabarés e por outras casas que vendem a sua sincera companheira a VODKA, nessas suas aventuras boêmias ele convive e conhece as mais estranhas e interessantes figuras, empresários, operários, jogadores, bêbados, amantes, policiais, ladrões, intelectuais, alienados, senhoras, animais, deficientes, idosos, jovens, moribundos, esperançosos, desesperados, loucos, lúcidos, pais, patrões, filhos, ovelhas negras, brancas, azuis, rosas dentre outras exuberâncias que habitam a noite. Ele sempre gostou da noite, dos cheiros, das vozes que ecoam por todos os cantos, do silêncio encontrado na última gota de urina dos banheiros decadentes e encantadores de todos os bares por onde passou, sempre foi um ouvinte assíduo de todas as histórias e lamurias dos bêbados inveterados e dos bebedores iniciantes, desde muito pequeno Piotr Ivanovich gostou de escutar histórias, as mais curtas sempre lhe agradaram, durante sua infância escutou muitas destas pequenas histórias dentro de sua casa, sempre contadas por sua avó que além de professora de piano ainda era sua instrutora de artes, até no fim de sua vida com seu corpo tomado pelos espasmos e pelos calafrios ela ainda insistia em educá-lo contando seus pequenos contos, antes de dormir ele retomava com sua releitura dos fatos e dos relatos, mas para não acordar a todos representava com suas mãos os personagens, assim foi todo seu inicio de vida, escutando, registrando e transformando. Depois de muitos anos quando já era um jovem adulto ele já não distinguia o que era realidade e o que era fantasia em suas histórias recontadas, ele sentia como se tivesse participado de todas elas, se colocando ora em um personagem ora em outro, mas sempre como peça fundamental da trama, suas mãos ganharam tanta independência em suas transformações que Piotr tinha medo que um dia elas tomassem o controle e lhe estrangulasse durante a noite, chegando ao cumulo de dormir com elas vestidas por luvas para que não se irritassem e lhe fizessem algum mau, de todas as lembranças de seu passado ele só conhece histórias contadas, relatadas ou inventadas, todos os personagens agora são sua família, seus companheiros de bebidas, suas amantes, seus protetores e até mesmo porque não pequenos filhos; com sua mala de couro e seu chapéu esquisito ele transforma espeluncas em palácios e bodegas em templos, seu escritório e sua mente e suas coisas cabem em uma mala velha. Ele jamais existiria sem suas histórias e ele nunca deixa de escutar uma nova, quando alguém se coloca a contar uma história, ele arregala os olhos franzi a testa e presta atenção em todos os detalhes, nenhuma palavra escapa aos seus atentos ouvidos e nenhum gesto deixa de ser flagrado pelos seus aguçados olhos. Durante sua via-sacra ele ganha, acha, recolhe das ruas e compra ou troca pequenos objetos para ajudar a ilustrar suas histórias, o elenco é composto por mãos, o camarim sua mala de couro e o roteiro contos, fatos reais ou inventados, ou melhor..... Modificados.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Um dia desses


Quando não espera o dia chegar e nem passar, não procura confusão, toma cuidado com tudo, lava as mãos com sabonetes especiais, toma chá, cerveja, banho, jeito, remédio digestivo, uma lavada, escutas musicas antigas e fica longe e perto de tudo. Assim foi o dia do fim do recesso, ele tinha que acabar e acabou, depois de remoer até o osso felizmente ele chegou ao fim. Tinha cinco moedas nas mãos, quatro douradas e uma prata, olho pra elas e fico pensando, para que elas foram usadas? Mas Hoje elas estão comigo e isso é único, eu, as moedas e o dia que não passa ou também pode não ter nada demais. Não dá mais pra voltar para este pequeno recesso, acordei não sentindo nada, as coisas devem ser assim de certa forma vazias, nada é tão grandioso, tão exuberante, tão sincero, divino, digno, ético, construtivo, desinteressado, maldoso, inspirador, mágico, pré-definido, especial, memorável ou até deplorável. AS coisas acabam, pessoas morrem e a gente esquece, mas antes de sermos atingidos por alguma doença ou bomba genética vamos aproveitando, coisas acontecem pessoas não... Encontros e desencontros, mas as cinco moedas são minhas, pelo menos agora ou até próximo vendedor de chicletes.

domingo, 1 de agosto de 2010

RECESSO



Durante esse meu recesso lembre-se de "martelos e bigornas" e diga alguma coisa ao pé da orelha.

domingo, 18 de julho de 2010

A morte prematura de Anabela


Não havia dúvida, ela estava a poucos mais de um metro de distância e ele de súbito se pós a falar, palavras desencontradas que mais pareciam fragmentos de pensamentos sem uma organização lógica, que não tinham força para atravessar este espaço já preenchido por outras inquietações, outros desejos e outras lembranças.E neste esforço sobre-humano ele encontrou uma indiferença que trucidou qualquer resquício de esperança que supria a vontade de fugir desta ausência. Agora sim ele estava certo em suas observações. Anabela havia morrido já a algum tempo, seu pequeno corpo escorria de seus pensamentos e lhe escapava pelos dedos, apavorado agora ele tinha medo deste espectro envolto por todas as lembranças. Anabela vitima de uma corrosiva incompreensão, vitimada pelo acaso, por erros e pela perversidade da juventude; onde estará seu pequeno e imaginário corpo?
Dentro do mais completo recesso a observa, sabe que longe dela ele é um ambulante que vaga pelos máximos perigos de seus pensamentos, de longos momentos de pequenas preces, sabe também que suas lembranças estão encarceradas em sua cabeça e que sempre voltam.

Carta restante de Osvaldo filho do sapateiro

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Carta a Tejo


Quando olho para minhas mãos, tenho a leve impressão que subitamente elas irão acabar comigo, cegamente e sem perdão. Mesmo herdando um certo lirismo lusitano, ainda carrego comigo toda a densidade e a insanidade da frieza do sol dessas Erínias tropicais. Além dessa fúria existe um leve sopro de serenidade e dentro dessa serenidade existe um vazio, cheio de palavras não escritas e ações não executadas, ainda que não percebesse esse desalento, estaria cercado por essa agonia, dessas construções paradas e desses homens mortos de corpos insignificantes e desejos incompreensíveis.Á que tempo pertencem meus pensamentos?. Meus sonhos ainda estão embarcados em caravelas avistando não mais densas matas e sim um cinturão de concreto? As vezes caminhando pela rua,paro, como se quisesse rever uma imagem ainda não conhecida, depois volto a andar e peço perdão para mim mesmo, por essa vontade invisível do desconhecido, mesmo em meio a toda essa fatalidade que paira nos rostos cansados desses trabalhadores que são humildes em seus olhares, ainda encontro momentos de neutralidade, curtos espaços de tempo onde tudo parece ficar suspenso, em silêncio e embalado em uma certa melodia, composta por coisas impossíveis que cintilam em meus pensamentos, vagueio por todo vórtice do delírio . No intervalo entre esses momentos suspensos volta o cheiro de necrose e a náusea que pulveriza toda rua das noites dessas cidades. E com essa pequena dose de lirismo lusitano embarco nessa viagem poética do amazonas ao Tejo, sonhando com todas recordações verdadeiras ou inventadas, de navegações que nunca fiz e de histórias que nunca escutei.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pequeno perfil de cidadão comum


A vida nos presenteia sempre com mais um cidadão comum que bebe sua cerveja, gosta de futebol, escuta um "Rock" e fala de coisas sem sentido, frases perdidas de filmes ou trechos de livros, acredita de certa forma em Deus e em todas aquelas criações invisíveis do homem,que para se sentir menos solitário no final escreve livros e conta histórias, acredita que nasceu um critico musical, pronto para exaltar os Deuses da musica, intocáveis, irreproduzíveis e imperdoáveis. Esse Cidadão comum que a muito sonha que atingiu o píncaro da vida virtual construiu seu império a partir dessa ironia pré-moldada e simplória, que borbulha em muitos textos do grande sacolão virtual(Twitter, Blog dentre outras maravilhas). Enquanto essa incapacidade é preenchida por todos os caracteres que lhe faz jus,ele se esbalda em sua poltrona banhada por um orgulho de rei de um império vazio, jamais ira se dar a vida e sempre se recusara a participar do espetáculo fascinante que é cheio de musgo, esgoto, poesia e elefantes; aqui ele vai permanecer.A uma certa tendência em meus textos que posso intitular de filosofante, seria eu anarquista de alma serena ou um espectro de cidadão comum que acordou com um espírito inquieto e fervilhante?. Se a verdade é incomoda e o tempo é quando, prefiro continuar com alma anarquista, corpo franzino e com pensamentos que caçam pessoas, do que me chafurdar em entorpecidos sentidos que modulados pervertem nossos desejos, atolar-se em vícios já não é mais uma fuga pertinente, é sempre preciso manter o controle para não sair correndo para qualquer lugar, fugindo de qualquer coisa. Enquanto isso nosso pequeno cidadão de perfil comum, prepara sua mais nova artilharia, regada a muito humor e comentários fofos tão macios que cedem facilmente a pressão, não há verdade e nem vontade em sua palavras, há apenas resquícios de maculadas inclinações, uma busca incessante por afeição e um sonho delirante de atenção. Será que é isso que nós precisamos?.Será que é isso que eles precisam?. Eu vou escolher todos os olhos que irei olhar, ainda acredito que tenho esse poder de escolha, irei escutar sons que agradam ou não meus ouvidos, um infeliz que vai de tonto, buscar todas comemorações fantasnticas dançar no meio desse vertice supremo do descaso. O homem não era necessário, mas ao revez ele existe, transforma , brinca com a lógica, é social, luta por uma colocação moral, balbuceia sobre estética, pisa leve e caminha entre seus tumulos ou berços, e deixa seus corações simples esperançosos de jamais encontrar a face da morte.Você ainda pode desejar que tudo fique errado, e tudo fique sem resgate, eu ainda estou fora, vou ficar fora, acordado e sempre esperando

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Inviolável


Onde escondemos os novos demônios de nossa sociedade?. Que estão proibidos de enunciar as verdades incomodas desse covil, entre os dentes serrados de todos os falantes surgem fetos de pequenos demônios que habitam sombras e consomem desejos, embalados, acomodados e esterilizados. Nada acontece, apenas embalagens muito bem fechadas caminham de um lado para o outro buscando um pouco mais de vácuo, por mais delirante que pareça assim será, as partículas sólidas serão retidas e comprimidas permitindo que apenas o ar saia pelo pórtico de exaustão, assim muito bem fechados viveremos e quando por algum motivo no mínimo por uma anomalia psíquica uma embalagem é violada ela é retirada de circulação até o vácuo ser restituído e os pensamentos fechados em sacos zip lock. Tudo que esta a vácuo reduz em 80% de seu volumne e assim hermeticamente selados buscamos algum movimento mesmo que seja um espasmo involuntario dentro de nossa queridas monstruosidades cotidianas. De todas essas monstruosidades humanas de significado universal as que nos causam mais terror são aquelas reprimidas nos corpos castrados suavemente com angustias rotineiras, chegam ao ponto de sufocar, e nesse ponto que surgem corpos transtornados que brincam com as deformidades da sociedade que em sua dança de quase-monstros buscam uma não identidade. Dentro de toda nossa desonestidade e hipocrisia velada existe algo inviolável que jamais pode ser rompido apenas resvalado e revelado em palavras, gemidos, ruídos e grunhidos, reaproveitando todo lixo escondido nos cantos de toda embalagem reinventando o desprezo por qualquer tipo de linguagem.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Momento imóvel


É interessante como cada vez mais me apego a coisas pequenas ou que parecem insignificantes. Hoje me despeço de St. Louis, na verdade terminei de escrever, já sinto falta daquele mundo que a tempo estava familiarizado, enquanto escrevia observava meus dedos, o que há neles além da carne?. o que a neles além de uma vontade esquecida?. Durante os últimos dias andei reparando nessas pequenisses, gosto muito da unha do meu dedo mindinho direito, não sei pq mas gosto, e acho que essas praias tem azul demais, reparei como a areia tende a entrar em meu pé esquerdo incomodando meus dedos. Agora durante esse meu recesso o tempo parece passar em um ritmo arrastado, talvez seja por isso que posso reparar em pequenos momentos, e quando acontece fico imóvel como se embebido pela vontade de dilatar o tempo ainda mais para não perder cada detalhe, vago por ai em busca de um momento imóvel, até quando terei capacidade de dilatar o tempo? Hoje, não sinto conforto em escutar nenhuma voz, prefiro tentar escutar esse vácuo do tempo dilatado que é imune a cicatrizes do passado e esse som inaudível embala meus pensamentos na balada do silencio que freqüentemente me conforta, até quando? Só posso a pedir a todos deuses desse silencio que me protejam de tanta mágoa " Toda raiva é muda e o silêncio incita a cólera" ( palavras de Nestor Castro Sotters)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Um dia de Gato.


Quase cinco minutos que dormi, agora já deve ser hora de acordar, pronto estou acordado, isso agora é hora de dormir novamente, creio que na próxima vez que acordar eles ja estarão acordados, quando fecho os olhos só me vejo correndo atrás de todo tipo pequenos animais, ratos, baratas, aquele em formato de linha e aquele em formato de bolinha de papel que odeio tanto. Será que hoje um deles me serve um pouco de leite?. Acho que no fundo gosto deles e eles de mim, aquela de pelos pretos um pouco menor não gosta de ser acordada com minhas especiais mordidas, o outro já não liga, Ah eles estão se movendo está chegando a hora, como gosto dessa hora, fico muito empolgado quando chega esse momento, a menor sempre me alimenta primeiro e solta alguns sons, as vezes parece de carinho, mas quando meu banheiro está cheio parece esbravejar, mas depois se arrepende e coça minha cabeça, ficarei a posto ao lado da mesa esperando algo que caia, também tenho uma cadeira como eles, mas as vezes eles esquecem de puxa-la para que eu posso subir e ficar tão grande quanto eles, acho que de todas os gatos que conheci na minha enorme vida eu sou o mais feliz, sempre me queixo da solidão mas eles não me escutam, em alguns dias as janelas ficam abertas e posso explorar a parte externa de meu reino, aliás um reino muito bonito, todo cinza bem aberto e com cheiro de passaros, o maior tenta se cominicar comigo durante as mahãs que passamos juntos, gsto muito dessas manhãs, ganho vários alimentos diferentes e deitamos juntos olhando para aquele ponto que brilha, não sei oque vejo mas se ele olha então deve algo que se deve fazer. Em um certo momento ele começa a se movimentar, cortando, picando e me alimentando de pequenos pedaços, derrepente a menor chega, dentro daquela maquina estranha, ela entra, eles tocam as faces, as vezes ela pronuncia animal imundo olhando para mim, deve ser uma coia boa sei lá, acho muito estranho quando e la entra em uma caminhda estranha chaqualhando as mãos e dizendo " xixi","xixi", vai direto para o cômodo refrescante e fica lá dizendo, " não vem aqui" deve ser algum tipo d e ritual para a caixa deles que não é de areia é d e aguá lá. quando escrece é amesm coisa, em dias uantes sentamos os três na parte externa do reino e ficamos lá, acho que somos os lideres d toda essa região, eu protejo eles daquele louco que fica no telhado, tenho certeza que logo vou ser o lider, já estou grande e corro muito rápido até caçei um rato.Mas hj as coisas são diferentes, passo muito tempo sozinho, o maior deve ter morrido ele sumiu, sou o lider eu acho mas não tenho mais grupo pra liderar, ela as vezes aparece por a qui, vou proteje-la de qualquer coisa principalmente daquelas bolinhas de papel que nunca mais se atreveram a aparecere por aqui, ela orme muito, eu gosto, porque também gosto de dormir bastante, hj eu fecho os olhos e me vejo sentado na frente do reino os três juntos como lideres da rua

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Diamantes de pedaços de vidro


Há uma espécie de pandemônio abafado no ar, como se estivesse reprimindo algum tipo de violência que espera um advento insignificante, um detalhe escondido, algo microscópio mas inteiramente impremeditado. Hoje passei o dia sem escutar a minha voz, não disse uma palavra se quer e realmente é muito estranho, por alguns breves segundos você esquece o timbre de sua voz e parece que nunca mais vai conseguir balbuciar uma palavra, as palavras me parecem estranhas, pensamentos me parecem estranhos, quando terei a dádiva dada apenas aos epilépticos de perder a noção de tempo e espaço? Nesse momento sinto meu núcleo tornando-se cada vez mais sólido e a realidade próxima cada vez mais entorpecida, quanto mais metálico mais frio. Todo estado de tensão deve ser finamente traçado driblando toda essência que ainda resta em meio as ruinas, só assim poderei encarar o absoluto, só assim poderei encontrar qualquer vestígio de absoluto. amanhã pode haver uma guerra mas hoje estou intacto, terremotos acontecem, desgraças de todos os calibres, mas eu continuo intacto, parece-me que tudo já aconteceu e nada foi suficiente para me destruir, de ilusões na da resta mas eu continuo intacto, se sou um esqueleto recoberto por alguma quantia de carne a qual tento proteger a qualquer custo, serei este esqueleto até o fim, mas sempre intacto. As vezes acho que busco o limite da resistência e estou com as costas na parede e que todos os deuses me protegem de tanta mágoa. Agora penso muito em meu irmão, lembro de uma vez que brincávamos de buscar pedaços de vidro pela rua eram nossos diamantes pegávamos todos tínhamos a leve sensação de estar enriquecendo e em um ato de ilusão infantil meu irmão apertou o pedaço de vidro e cortou a mão, eu me esqueci da casa em que morava da comida que comia e das palavras que repitia mas jamais me esqueci do corte na mão, nunca esquecerei nossos diamantes de pedaços de vidro.

quinta-feira, 25 de março de 2010

As Baratas suburbanas da rua 43.


Todas as noites Razu uma barata de casca bagunçada saia em busca de migalhas, dos canos escuros de tempos em tempos aparecia um pequeno banquete, de caroços mal comidos, nacos de carne mastigada e guloseimas regurgitadas por crianças e bêbados, Razu era um entre milhões de iguais que corriam um por cima um do outro e que devoravam verosmente tudo comestível. Ele observava como seus companheiros eram parecidos com ele, alguns eram esmagados impiedosamente por calçados sem alma outras perdiam a cabeça e vagavam consumidas pela inanição, ele sabia que nada que ele fizesse seria tão importante que perduraria algum tempo depois de sua morte, quanto tempo ele conseguiria ficar nessa devoração insana cruel e bem sucedida? Ao cair da noite a corrida começava e todos saiam de suas tocas, a tempo ele conhecia um cano que de vez enquando cuspia coisas interessantes umas comestíveis e outras não, nesta noite ao chegar avistou um pequeno pedaço de um material brilhantes, algumas baratas já tinham vasculhado por lá e não havia nada a ser devorado era apenas aquele pequeno material brilhante quadrado e áspero, por um instante Razu ficou paralisado observando aquele pedaço brilhante banhado por excrementos naquela noite ele não se alimentou e ficou como pajem cuidando do tesouro ignorado por seus companheiros, não tocou nenhuma pata no cinevazi que era o nome que Razu batizara seu quadrado brilhante, seria esse seu momento mais significante de sua vida? Que palavras dizer para um cinevazi? Por onde andaria lami a francesinha que conhecerá em um banquete de esgoto hospitalar? De onde vinham suas asas tortas e bagunçadas? Quanto dia ainda sentiria o cheiro de sabão de sua infância? Oque as baratas faziam de importante eram milhões esperando o dia do fim.............. continua ...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Morrer de samba de cachaçá e de folia..


No carnaval agora eu não vou mais me fantasiar, de todas as festas sobreviventes da época colonial o carnaval é a mais popular e maior festa de rua do pais, de uma guerra de água fezes e urina a magia das cabrochas. E ainda no longo capitulo de 2010 houve um carnaval acabado como máscaras arrancadas a força inescrupulosa da lei. Assim será nossa vida de uma tarde simples a uma noite com piratas, mascarados, pessoas pequeninas, jovens medíocres em suas roupas mais bonitas e todos embriagados pela melancolia sorrateira do carnaval fugindo de uma viatura que mais parecia um carro alegórico com policiais que em muito sonharam em ser oficias do topo da hierarquia. De todos os foliões em fuga e dos filhos sofridos da ditadura que tentaram bajular os miseráveis representantes da republica federativa do Brasil, apenas três permaneceram na mesma posição se embriagando de cachaça e lamuriando antigos sambas de machucar os corações, eles observavam os outros em fuga, essas três figuras seguem: um estrangeiro filho de uma ditadura cruel que carrega em s eu sorriso a alma de todos seus entes queridos mortos pela ignorância humana, que mesmo com todas essas cicatrizes consegue achar a cachaça mais amarga que a vida e fazer careta quando ela desce por sua garganta, um surfista que parece ter plasmado diretamente daqueles filmes de grandes ondas embebedado em sua fala fácil e olhar brilhante, que carrega com ele a sombra de uma idéia de malandro e se coloca como bicho feroz caçando a fêmea não importa qual e não importa quem até um dia que irá irromper em sangue como na opera do malandro e a terceira figura sentada na sarjeta máscarada com uma garrafa em um copo em sua frente, era ele pequeno poeta sem pose e de coração vazio, que de noite ama tudo aquilo que perturba seu sono e de dia dança entre sonhos e desespero, ele observava pelos orifícios correspondentes aos olhos aquela viatura que lentamente ia embora com seus medíocres condutores repetindo a palavra " circulando, circulando e circulando". Mas como poderia esses circularem se mal sabiam o que circular, o estrangeiro que circularia a sombra de seu passado, o surfista que em passos lentos circularia rodelas saborosas de maça pois jamais poderia ser de lingüiça e o poeta que circularia? Uma capacidade de ternura e o antigo respeito pela noite
E no fundo a grande promessa de não mais colorir a dor.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Aos de corpo hermético e coração patético.



E no longo capitulo de 2010, meu único desejo é não me tornar um intestino.

Observo esses espectros velhos e devassos caminhando pela areia, carregando seus largos sorrisos aflitos e empunhados em suas mãos todas essas crianças velhas,pequenos humilhados, enquanto meu pensamento vadio vaga por todo esse mundo de anêmonas humanas, mil palavras corrompidas se precipitam de meus pensamentos e param no lábio fechado de espanto sorridente e de espera constante. Há um grande aumento de abismos em meus pensamentos, onde apenas minha sombra alheia a toda covardia observa da beirada do infinito. Uma manhã uma carcaça de peixe arrastada por uma onda fraca encalhou na areia, de olhos esbugalhados e boca apodrecida, o cheiro que se apoderou tomava as narinas de todos aqueles de corpo hermético que caminham na praia e que se esquecem que para isso fomos feitos do pequeno berço a estreita urna ou até mesmo em uma caixa de madeira fraca mal feita. De todas as tardes não esquecidas qual terá cheiro de peixe em putrefação, qual terá o gosto de um coração patético em desilusão e qual será costurada com ausência de saudade?
Entre todas as lembranças as melhores são aquelas acompanhadas do perfume da decomposição e realmente para isso fomos feitos, verdadeiros escaspistas da morte em busca da vida que de defesa apenas tem a degeneração lenta e cruel.
Mas logo vem o carnaval, três dias pra sorrir não é?