quarta-feira, 14 de julho de 2010

Carta a Tejo


Quando olho para minhas mãos, tenho a leve impressão que subitamente elas irão acabar comigo, cegamente e sem perdão. Mesmo herdando um certo lirismo lusitano, ainda carrego comigo toda a densidade e a insanidade da frieza do sol dessas Erínias tropicais. Além dessa fúria existe um leve sopro de serenidade e dentro dessa serenidade existe um vazio, cheio de palavras não escritas e ações não executadas, ainda que não percebesse esse desalento, estaria cercado por essa agonia, dessas construções paradas e desses homens mortos de corpos insignificantes e desejos incompreensíveis.Á que tempo pertencem meus pensamentos?. Meus sonhos ainda estão embarcados em caravelas avistando não mais densas matas e sim um cinturão de concreto? As vezes caminhando pela rua,paro, como se quisesse rever uma imagem ainda não conhecida, depois volto a andar e peço perdão para mim mesmo, por essa vontade invisível do desconhecido, mesmo em meio a toda essa fatalidade que paira nos rostos cansados desses trabalhadores que são humildes em seus olhares, ainda encontro momentos de neutralidade, curtos espaços de tempo onde tudo parece ficar suspenso, em silêncio e embalado em uma certa melodia, composta por coisas impossíveis que cintilam em meus pensamentos, vagueio por todo vórtice do delírio . No intervalo entre esses momentos suspensos volta o cheiro de necrose e a náusea que pulveriza toda rua das noites dessas cidades. E com essa pequena dose de lirismo lusitano embarco nessa viagem poética do amazonas ao Tejo, sonhando com todas recordações verdadeiras ou inventadas, de navegações que nunca fiz e de histórias que nunca escutei.

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