terça-feira, 17 de agosto de 2010

Made in Krakówz


Piotr Ivanovich vive perambulando por todos os botequins, tabernas, cabarés e por outras casas que vendem a sua sincera companheira a VODKA, nessas suas aventuras boêmias ele convive e conhece as mais estranhas e interessantes figuras, empresários, operários, jogadores, bêbados, amantes, policiais, ladrões, intelectuais, alienados, senhoras, animais, deficientes, idosos, jovens, moribundos, esperançosos, desesperados, loucos, lúcidos, pais, patrões, filhos, ovelhas negras, brancas, azuis, rosas dentre outras exuberâncias que habitam a noite. Ele sempre gostou da noite, dos cheiros, das vozes que ecoam por todos os cantos, do silêncio encontrado na última gota de urina dos banheiros decadentes e encantadores de todos os bares por onde passou, sempre foi um ouvinte assíduo de todas as histórias e lamurias dos bêbados inveterados e dos bebedores iniciantes, desde muito pequeno Piotr Ivanovich gostou de escutar histórias, as mais curtas sempre lhe agradaram, durante sua infância escutou muitas destas pequenas histórias dentro de sua casa, sempre contadas por sua avó que além de professora de piano ainda era sua instrutora de artes, até no fim de sua vida com seu corpo tomado pelos espasmos e pelos calafrios ela ainda insistia em educá-lo contando seus pequenos contos, antes de dormir ele retomava com sua releitura dos fatos e dos relatos, mas para não acordar a todos representava com suas mãos os personagens, assim foi todo seu inicio de vida, escutando, registrando e transformando. Depois de muitos anos quando já era um jovem adulto ele já não distinguia o que era realidade e o que era fantasia em suas histórias recontadas, ele sentia como se tivesse participado de todas elas, se colocando ora em um personagem ora em outro, mas sempre como peça fundamental da trama, suas mãos ganharam tanta independência em suas transformações que Piotr tinha medo que um dia elas tomassem o controle e lhe estrangulasse durante a noite, chegando ao cumulo de dormir com elas vestidas por luvas para que não se irritassem e lhe fizessem algum mau, de todas as lembranças de seu passado ele só conhece histórias contadas, relatadas ou inventadas, todos os personagens agora são sua família, seus companheiros de bebidas, suas amantes, seus protetores e até mesmo porque não pequenos filhos; com sua mala de couro e seu chapéu esquisito ele transforma espeluncas em palácios e bodegas em templos, seu escritório e sua mente e suas coisas cabem em uma mala velha. Ele jamais existiria sem suas histórias e ele nunca deixa de escutar uma nova, quando alguém se coloca a contar uma história, ele arregala os olhos franzi a testa e presta atenção em todos os detalhes, nenhuma palavra escapa aos seus atentos ouvidos e nenhum gesto deixa de ser flagrado pelos seus aguçados olhos. Durante sua via-sacra ele ganha, acha, recolhe das ruas e compra ou troca pequenos objetos para ajudar a ilustrar suas histórias, o elenco é composto por mãos, o camarim sua mala de couro e o roteiro contos, fatos reais ou inventados, ou melhor..... Modificados.

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