sábado, 28 de agosto de 2010

Essa tal gravidade absoluta (Vomitus cruentus)


Hoje ele acordou mais pesado do que qualquer objeto dentro de seu quarto, nada se move, essa gravidade derrete sua pele deixando sua ossada seminua, um grumo louco toma conta de seus pensamentos que estão ancorados por essa força prestamista, logo hoje que parecia tão bem disposto de súbito essa força puxou sua cabeça para baixo, comprimiu suas articulações de tal maneira que seus movimentos são como antigas portas de ferro, a cada hora que passa essa calma desesperada torna-se uma incapacidade que se alimenta dessa gravidade absoluta, em meio a essa força retornam pensamentos que pareciam estar decompostos e dos quais só restavam cinzas impiedosas. Nesse quarto humilde a gravidade molesta a carne e estreita o esqueleto, acaba com qualquer instante de esquecimento, com qualquer sonho trágico de criança, mantém todos os artigos de farmácia distantes e aqui vai permanecer. Quem diria? Logo ele que nunca teve medo de altura agora se assusta com medo da força que lhe mantém deitado e tem medo que seja tarde para acabar com toda náusea da vida cotidiana, com todo mistério de sonhos confusos e tarde para entender a rotação lenta da terra. Todas inaudíveis palavras já foram ditas, sabe que não será lembrado e que não haverá nenhum verso, nenhum caminho curto entre dois pontos, ou até mesmo uma pequena prece em uma noite de domingo; se essa gravidade absoluta lhe roubou as palavras tornando sua mente cruel e simples lhe resta apenas esconder todos os destroços e continuar como uma pequena massa comprimida em um buraco negro. E a todos que se preocupam com minhas palavras; tranqüilos....sempre falando baixo.

Um comentário: