Como são estranhos os olhares das pessoas que aguardam o começo de um espetáculo, com olhos de pedra e com a cabeça direcionada para entrada do palco, elas permanecem entre a euforia e a agonia da espera; enquanto do outro lado os instantes dilatados são feitos de frações não vividas , tomados por de certo silêncio ruidoso, uma espera levemente angustiante e suavemente tempestuosa.
Na última apresentação de Krakow´ havia uma pequena vidraça, onde dividia o campo de visão com uma dupla de malabaristas, observamos durante algum tempo, não sei bem o que eles olhavam, mas dedicava minha atenção a busca de cada detalhe, de cada rosto, que de praxe estão sorridentes e vazios. Sempre existe certo resquício de violência reprimida que acentua o aspecto fantasmagórico das platéias, enquanto observava daquela vidraça me senti um rato pequeno e curioso, logo atrás havia aqueles objetos sem significados, empoeirados e que se encontram em fundos de teatro e galpões de ensaio, de uma forma fascinante acrescentam um pouco de poesia a essa atmosfera agastada; em dado momento os malabaristas saíram para executar seu numero, então só restaram os objetos empoeirados, a platéia de fantasmas e o rato da vidraça; o tempo se dilatou ainda mais
Quantos segundos faltavam para minha entrada?
Quantos fantasmas iam me emprestar suas faces?
Pronto, estava feito, havia sido anunciado, o espetáculo começa, lapso, lapso, palavras perdidas, objetos que ganham vida, pequenas situações, lapso, lapso, escuro e aplausos, enfim, havia terminado, todos gostaram. Observei todos os fantasmas, o ideal não estava lá e nunca estaria; alguma coisa quebrou dentro de mim no retorno ao fundo para objetos empoeirados, quando olhei o espelho lá estava ele sorrindo para mim de maquiagem borrada e cabelos destrambelhados, nenhuma reverência ou muito menos saudade e ironicamente era como se ele falasse: